quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A prova de fogo de Hillary

A vida de Hillary Clinton à frente do Departamento de Estado estava a ser, até agora, bastante fácil, até demasiado fácil, diriam alguns. Como líder da diplomacia norte-americana a antiga Primeira-Dama parecia ter conseguido um sweet deal: uma posição de grande visibilidade e importância, mas pouco propícia a polémicas e intrigas políticas. E, de facto, isso confirmou-se nos primeiros tempos de Clinton no Departamento de Estado, com os seus índices de favorabilidade a subirem exponencialmente, sendo nesta altura a figura mais popular da Administração Obama.
Contudo, também Hillary teria, em algum momento, de ser posta à prova e experimentar o sabor da controvérsia. E esse ponto parece ter chegado com a divulgação de cerca de 250 mil documentos diplomáticos americanos pela WikiLeaks. Esta colossal fuga de informação, que o Ministro dos Negócios estrangeiros já caracterizou como "o 11 de Setembro da diplomacia", é um enorme embaraço público para o Departamento de Estado norte-americano, que depende, em larga medida, da confiança em canais de comunicação seguros e fiáveis para realizar as suas funções.
A Secretária de Estado norte-americana já denunciou e repugnou a divulgação das comunicações diplomáticas, que, na minha opinião, representa um verdadeiro ataque aos Estados Unidos, como também o foram as anteriores revelações do WikiLeaks, sobre o Afeganistão e o Iraque. Apesar de ser um defensor da liberdade de informação e de imprensa, penso que quando estão em jogo segredos de Estado, as voláteis relações diplomáticas e internacionais, ou mesmo a vida de seres humanos, revelações como estas são irresponsáveis, negligentes e, no fundo, criminosas.
Mas isso não desculpa o falhanço total do Departamento de Estado e da intelligence americana em evitar esta fuga de informação de dimensões nunca vistas. A Secretária de Estado, em particular, não fica nada bem na fotografia e vai ter uma árdua tarefa para restabelecer a imagem  e credibilidade do seu departamento no mundo, pois uma diplomacia que é incapaz de guardar os seus segredos é uma diplomacia ineficaz e inoperante. Mas Hillary Clinton já provou, diversas vezes, que gosta de um bom desafio e até poderá fazer deste contratempo uma oportunidade para provar as suas qualidades. A ver vamos.

2 comentários:

  1. Ja agora, Joao, quando e que a Hillary provou que gosta de um bom desafio e que grandes qualidades ja evidenciou como politica?

    Joao

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  2. João, se Hillary não gostasse de um bom desafio por certo que, em 2008, não se teria mantido na corrida pela nomeação democrata até Junho, uma altura em que já todos tinham percebido que seria Obama o nomeado. E parece-me óbvio que Hillary tem de possuir muitas e fortes qualidades políticas, ou não teria sido uma espécie de vice-presidente enquanto 1ª dama, nem eleita (duas vezes) para o Senado dos EUA por um dos maiores Estados americanos, nem Obama a escolheria para liderar a diplomacia do país.

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