terça-feira, 31 de julho de 2012

O atribulado périplo internacional de Romney

A política externa é, tradicionalmente, um dos pontos fortes dos nomeados presidenciais republicanos, já que o Partido Republicano é genericamente visto pelos eleitores como mais competente do que os democratas neste capítulo da governação. Contudo, desta vez, parece ser Barack Obama que vai à frente neste tema, fruto de algumas decisões e atitudes populares que foi tomando ao longo do seu mandato no que diz respeito à política externa e de defesa, como a morte de Bin Laden, a retirada do Iraque ou a ausência de atentados terroristas durante o seu período na Casa Branca.
Assim, Mitt Romney, repetindo a jogada realizada pelo próprio Obama em 2008, partiu para um périplo pelo estrangeiro de forma a tentar firmar os seus créditos em relações internacionais e a dar-se a conhecer aos líderes mundiais, com quem poderá ter de lidar directamente num futuro próximo, caso vença as eleições de Novembro. Como não podia deixar de ser, Romney começou por visitar o grande aliado dos EUA, o Reino Unido. 
Todavia, uma vez em terras de Sua Majestade, o ex-Governador do Massachusetts logo começou a "meter água" ao afirmar que duvidava da capacidade britânica para organizar os Jogos Olímpicos. Em resposta ao republicano, o Primeiro-Ministro David Cameron respondeu de pronto, recordando que é bem mais fácil organizar umas Olímpiadas "no meio do nada", numa clara alusão aos Jogos Olímpicos de Inverno em Salt Lake City, cuja organização foi liderada por Romney. Para piorar as coisas, durante a estadia de Mitt Romney em Londres, houve quem recordasse que, no seu livro No Apology, o candidato republicano disse que a Inglaterra é apenas uma pequena ilha, que, com poucas excepções, nada produz que o resto do mundo queira comprar.
Depois da atribulada visita ao Reino Unido, Romney viajou para Israel. Porém, também em solo judaico Mitt Romney já cometeu uma gaffe ao sugerir que as diferenças de riqueza entre os israelitas e os palestinianos pode ser explicada, em parte, pelas suas diferentes culturas, o que já deu origem a protestos palestinianos, que se sentiram insultados pelos comentários do candidato. Finalmente, a última etapa no périplo europeu teve lugar na Polónia, onde Romney se encontra actualmente. E também aqui a sua campanha já deu que falar, depois de um assessor de Mitt Romney ter utilizado termos menos próprios para se dirigir aos jornalistas que tentavam obter declarações por parte do candidato em Varsóvia.
Erros deste género não deverão ter consequências muito pesadas para as chances eleitorais de Mitt Romney. Contudo, tudo o que desvie o nomeado republicano da sua mensagem centrada na economia é uma má notícia para a sua campanha. Além disso, se com esta viagem Romney esperava marcar pontos e diminuir a vantagem de Obama em matérias de relações externas, então esse objectivou falhou completamente.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A rising star

Em 2008, os democratas contaram com muitos e grandes nomes a concorrerem pela nomeação presidencial, incluindo as super-estrelas Hillary Clinton, Barack Obama e John Edwards (entretanto caído em desgraça), mas contando ainda com as presenças de alguns políticos de nomeada, como Joe Biden, Bill Richardson ou Chris Dodd. Contudo, quando se olha para 2016, o leque de candidatos a segurarem no estandarte do Partido Democrata é bastante reduzido e faltam pesos-pesados a perfilharem-se para a corrida à presidência.
Muitos democratas sonham com a candidatura de Hillary Clinton, mas a solução para o partido pode residir numa estrela em clara ascenção, nada mais nada menos que Andrew Cuomo, o Governador de Nova Iorque. Filho de Mario Cuomo, outro popular ex-Governador do mesmo Estado, Andrew tem no currículo uma presença na Administração Clinton, como Secretário da Habitação e do Desenvolvimento Humano, passando depois para o governo estadual de Nova Iorque, primeiro como Attorney-General e, agora, como Governador.
Actualmente, Andrew Cuomo é provavelmente o Governador mais popular dos Estados Unidos. Ainda recentemente, uma sondagem da Quinnipiac atribuía-lhe uma taxa de aprovação de 73%, conseguindo mesmo um valor elevadíssimo entre os eleitores republicanos (69%). É certo que Nova Iorque é um dos Estados mais favoráveis aos democratas da União, mas, ainda assim, estes números não deixam de impressionar. E, além de popular no seu Estado, Cuomo está ainda muito bem financiado, tendo quase 20 milhões de dólares no seu "cofre de guerra", o que, segundo o Wall Street Journal, é mais do que o que possuem 40 outros governadores em conjunto.
Não admira, por isso, que Cuomo surja como um dos nomes em destaque quando se fala das eleições presidenciais de 2016. E o próprio parece mesmo estar a preparar terreno para uma eventual candidatura, com algumas notícias a darem conta de que Cuomo está a tentar ocultar informação e dados sobre o seu mandato como líder de Nova Iorque. Assim, tudo indica que o mais recente representante político da família Cuomo seja, daqui a 4 anos, candidato a suceder a Barack Obama, ou tente impedir um segundo mandato de Mitt Romney.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tragédia em Denver

O trágico "massacre de Denver" foi ainda na semana passada, mas o acto de loucura de um indivíduo que desatou a disparar na estreia de um filme da saga Batman continua a dominar o ciclo noticioso nos Estados Unidos. Como se sabe, nestas ocasiões, é normal que os índices de popularidade do Presidente em exercício subam ligeiramente, fruto do sentimento de luto e união popular que se costuma gerar após dramas de cariz nacional. Contudo, esse pequeno bump, a existir, será certamente de curta duração e, após estes dias em que as emoções estão ainda mais "à flor da pele", os números voltarão ao normal.
Nos Estados Unidos, é relativamente comum, quando sucede um acontecimento deste género, marcado por um grande número de mortes causadas por armas de fogo, se reaviva o debate em torno da 2ª emenda e das leis que tornam bastante fácil, na grande maioria dos Estados norte-americanos, o acesso a armas de foto. Desta vez, porém, e à imagem do que aconteceu após o massacre de Tucson, pouco se tem falado desta questão e poucos são os políticos que tentam levantar mais alto a bandeira do controlo de armas de fogo. Isto porque esta questão cada vez divide menos os cidadãos norte-americanos, que são, actualmente, esmagadoramente a favor da posse de armas de defesa pessoal e, consequentemente, diminuem os políticos que defendem a causa do controlo de armas de fogo.
Assim sendo, sem grandes implicações na campanha eleitoral e à falta de grandes iniciativas políticas que visem combater a ocorrência deste flagelo que é o homicídio em massa com recurso a armas de fogo, as declarações dos candidatos presidenciais sobre esta tragédia são os elementos políticos mais concretos a que podemos fazer referência. Elas aqui ficam:

quinta-feira, 19 de julho de 2012

New Mexico em jogo?

À medida que se aproximam as eleições presidenciais (serão a 6 de Novembro), convém ir prestando uma atenção mais detalhada às sondagens de nível estadual, nomeadamente nos chamados battleground states, onde se vai decidir o vencedor.
O New Mexico é, normalmente, um desses Estados decisivos. Contudo, nos últimos anos, este Estado do midwest tem-se tornado progressivamente mais democrata, fruto do aumento da comunidade hispânica - o New Mexico é o Estado mais latino da União, já que mais de 40% da sua população pertence a este grupo "étnico". Em 2008, Barack Obama venceu folgadamente neste Estado, derrotando John McCain por quase quinze pontos percentuais.
Assim, não se esperava que, este ano, o New Mexico fosse entrar nas contas da corrida e as sondagens vinham confirmando essas previsões, mostrando Obama à frente de Romney por uma larga margem. Ontem, porém, um estudo da Public Policy Polling atribui apenas 5% de vantagem ao Presidente, o que traduz uma redução drástica na diferença entre Obama e Romney em relação às últimas sondagens da mesma empresa no New Mexico, em que o Presidente tinha cerca de 15% de vantagem sobre o nomeado republicano.
É certo que esta sondagem pode apenas tratar-se de um outlier e terá de ser confirmada por outros estudos de opinião que confirmem os números da PPP. Todavia, e pelo menos para já, é melhor não riscarmos o New Mexico da lista de Estados a seguir com atenção nesta muito disputada corrida eleitoral.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Romney à defesa

Como escrevi ontem, Mitt Romney tem estado sob cerrado ataque da campanha de Barack Obama, que tenta explorar o seu passado na Bain Capital, acusando-o de enriquecer à custa das empresas que desmantelou e dos postos de trabalho que extinguiu ou enviou para o estrangeiro. Mais recentemente, o candidato tem tentado reagir, mas novas alegações, difundidas nos media, têm-no impedido de retomar à sua mensagem e ultrapassar este momento menos positivo para a sua candidatura.

Uma das histórias está ainda relacionada com o seu passado na Bain Capital, nomeadamente devido ao tempo que Romney terá passado nessa empresa. Ora, segundo os formulários financeiros que preencheu quando se candidatou à presidência, Mitt Romney declarou, sob juramento, que havia deixado a Bain Capital em Fevereiro de 1999, para se dedicar exclusivamente à organização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Salt Lake City. Contudo, segundo relatos posteriores, e de acordo com o próprio, Romney terá permanecido ligado à empresa até 2002. Assim,  há já quem acuse o nomeado republicano de faltar à verdade e mesmo de perjúrio. Mitt Romney já se veio defender, alegando que entre 1999 e 2002 esteve com uma licença sem vencimento e não manteve quaisquer responsabilidades na empresa. Ainda assim, a Bain Capital ameaça ensombrar a sua candidatura, com Barack Obama a saber aproveitar esta aparente fragilidade de Romney.

Mas há outro tema a dar dores de cabeça ao antigo Governador do Massachusetts e que pode ser ainda mais prejudicial à sua candidatura. Desde o início da campanha presidencial, Romney tem sido pressionado pelos seus opositores a divulgar as suas declarações de impostos. Até agora, havia sempre resistido, mas com o avolumar das pressões para que o fizesse, incluindo algumas provenientes do seu próprio partido, Romney anunciou que irá divulgar as suas declarações de impostos dos últimos dois anos e não mais do que isso. Ora, ao impor esta limitação, Romney já sabia que iria ser alvo de críticas e renovadas suspeitas em relação aos seus rendimentos. Todavia, optou por esta via, o que parece indicar que estará a querer controlar os danos e prefere esse tipo de críticas do que aquelas que surgiriam se revelasse as suas declarações de anos anteriores. É possível que esses documentos mostrassem que, nos últimos anos, Romney abriu novas contas em offshores ou que pagou taxas fiscais muito baixas, o que seria bastante prejudicial à sua campanha e daria novas e fortes linhas de ataque para os democratas. Estamos no campo da especulação, é certo, mas a decisão de Romney em não revelar as suas declarações de impostos dará azo a este tipo de controvérsias.

Por tudo isto, o candidato presidencial do GOP está actualmente obrigado a jogar à defesa. Devido a estes temas quentes, a sua campanha está a ter dificuldades em voltar à mensagem desejada, centrada, como se sabe, no tema da economia. Não admira, por isso, que já se fale na possibilidade de Romney divulgar em breve o seu candidato à vice-presidência. Nesta altura, tudo o que possa desviar o actual rumo dos ciclos noticiosos, é positivo para a campanha de Mitt Romney.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Obama ao ataque

Estamos de volta! Após umas férias retemperantes (ainda que tenham sabido a pouco), o Máquina Política regressa para fazer, sem mais interrupções, a cobertura do que resta da campanha eleitoral para a Presidência dos Estados Unidos. E, nas semanas em que não houve posts, Barack Obama saiu-se bem, devido principalmente à confirmação pelo Supremo Tribunal da constitucionalidade da reforma da saúde que promoveu, mas também pelos ataques que a sua campanha lançou contra o candidato republicano Mitt Romney.

Mas comecemos pelo tema mais importante: a aprovação da mais importante e polémica peça legislativa dos últimos anos nos Estados Unidos pelo mais alto órgão judicial norte-americano. Afinal, e ao contrário do que se esperava, o Supremo Tribunal declarou constitucional a famosa Obamacare, numa votação de cinco votos a favor contra quatro votos desfavoráveis. Surpreendentemente, não foi de Anthony Kennedy, o juíz moderado e que desempenha normalmente o papel de swinv vote, o voto decisivo. Desta vez, foi mesmo o Chief Justice John Roberts, um conservador nomeado por George W. Bush, que alinhou com os juízes da ala liberal para permitir a aprovação da lei. Desta forma, Roberts, que ainda tem largos anos no Supremo Tribunal pela frente, preferiu não tomar uma decisão que teria enormes consequências políticas e que poderia minar o seu futuro como líder do Supreme Court. 

Assim, Barack Obama conseguiu uma importante vitória, evitando que a bandeira mais emblemática do seu primeiro mandato fosse eliminada ou cortada pelo poder judicial. Além disso, após a decisão do Supremo Tribunal, a popularidade da reforma da saúde tem aumentando, o que permite a Obama utilizar a Obamacare na campanha, em especial os seus elementos mais sedutores, como a impossibilidade de as seguradoras negarem seguros a pessoas com condições médicas pré-existentes. 

Embalado por esta vitória, Obama partiu para o ataque no trilho da campanha, lançando uma série de anúncios onde critica ferozmente Mitt Romney pelo seu passado na Bain Capital, acusando-o de destruir empresas e empregos nos Estados Unidos, transferindo-os para o estrangeiro e, com isso, fazendo fortuna. Esta táctica tinha sido já utilizada durante as primárias republicanas, por Rick Santorum e Newt Gingrich. Na altura, o resultado foi nulo, com os eleitores republicanos pouco inclinados a criticar os feitos empresariais de Romney. Contudo, numa eleição geral, o eleitorado moderado e independente pode ser um alvo bem mais receptivo a este género de narrativa. E, de facto, nos últimos dias, as sondagens têm mostrado um ligeiro ganho por parte do Presidente, tanto nos estudos nacionais, como nas sondagens nos principais swing states.

Agora, Romney procura responder, tendo feito um périplo por vários programas informativos em diversos canais de televisão (alterando a sua estratégia mais recente de evitar as aparições nos media, exceptuando a Fox News, terreno mais seguro e familiar para o GOP), onde exigiu mesmo um pedido de desculpas por parte de Obama devido à onda de ataques vinda dos democratas. Como se pode ver, a campanha está definitivamente lançada e promete ser dura, negativa e disputada aos limites. E como não podia deixar de ser, nós cá estaremos para seguir e dissecar esta apaixonante corrida.