terça-feira, 22 de setembro de 2015

Scott Walker sai da corrida

E a mais de três meses do início das primárias temos a primeira desistência de peso na corrida. Scott Walker, Governador do Wisconsin e visto, até há pouco tempo, como um dos principais favoritos a conseguir a nomeação presidencial pelo Partido Republicano, anunciou ontem a sua saída da corrida pela Casa Branca.
Walker, um herói dos conservadores pela sua luta frente aos sindicados no Wisconsin, parecia destinado a ser o principal obstáculo de Jeb Bush e Marco Rubio na campanha, em particular por poder posicionar-se como o candidato anti-establishment. Contudo, o destaque conseguido por candidatos que nunca foram políticos - Donald Trump, Ben Carson e Carly Fiorina - ofuscou a candidatura de Scott Walker que também não foi capaz de aproveitar os debates para recuperar notoriedade.
Com os números no Iowa, o Estado fulcral para as suas hipóteses nas primárias, em derrapagem e sem dinheiro a entrar em valores suficientes para manter a sua campanha competitiva, Scott Walker tomou a mesma decisão de Rick Perry há algumas semanas e anunciou a desistência. Fala-se agora que o Governador do Wisconsin ainda pode regressar à corrida caso se chegue à Convenção Nacional Republicana sem um vencedor claramente definido, assumindo-se como uma figura de estabilidade e consenso. 
O mais provável, porém, é que Walker procure manter o seu lugar de Governador, procurando a reeleição em 2018. No imediato, e no que à disputa pela nomeação presidencial republicana diz respeito, Marco Rubio pode beneficiar desta desistência, absorvendo os poucos votos que Scott Walker estava a reunir, e, mais importante do que isso, os seus apoios financeiros e institucionais.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A escolha acertada


Quando, na semana passada, escrevi sobre o actual frontrunner da corrida pela nomeação presidencial republicana, deixei bem claro que Donald Trump seria uma péssima escolha do GOP para representar o partido na eleição geral, onde seria facilmente derrotado pelo candidato(a) democrata. Pelo contrário, hoje escolhi falar sobre aquele que seria, na minha opinião, a melhor opção do Partido Republicano para voltar a controlar a Casa Branca: Marco Rubio.
Rubio é uma estrela em ascensão no GOP desde que foi eleito para o Senado pelo Estado da Florida, na onda republicana de 2010. Na altura, o jovem político derrotou um consagrado e experiente Charlie Crist, que tinha a vantagem de concorrer enquanto Governador da Florida, frente a um então desconhecido Rubio. Ainda assim, o republicano derrotou copiosamente a concorrência e a sua campanha assertiva, eloquente e isenta de erros catapultou-o para a ribalta nacional. Logo aí, ficou claro que Marco Rubio, que mostrou ter um discurso sólido e ser excelente a debater, estaria destinado a voos mais altos. Foi, assim, sem surpresa que o senador júnior da Florida lançou a sua candidatura à Casa Branca, constituindo-se como um dos principais adversários do seu amigo e mentor, Jeb Bush.
Rubio, de 44 anos, é um cara nova no panorama políticos dos Estados Unidos e a sua entrada em cena recorda a de Barack Obama. É jovem e carrega um simbolismo paralelo ao do 44º Presidente: como filho de cubanos, seria o primeiro presidente hispânico dos Estados Unidos. Com os republicanos cada vez mais distantes do eleitorado latino, a escolha de Rubio como nomeado poderia representar uma nova oportunidade junto deste segmento do eleitorado tão decisivo em eleições presidenciais. Mais: num campo de candidatos republicanos muito homogéneo, Rubio destaca-se.
Sendo jovem e uma cara nova em Washington, Marco Rubio seria um excelente contraponto à provável nomeada democrata, Hillary Clinton, podendo utilizar a cartada da dinastia, algo que, naturalmente, não está à disposição de Jeb Bush, um dos favoritos a conseguir a nomeação republicana.  
Além disso, com o seu estatuto de Senador pela Florida, Rubio partiria na pole-position no sunshine state que é, sem dúvida alguma, um dos Estados mais importantes na disputa pela presidência, sendo mesmo o swing state com mais votos eleitorais à disposição do seu vencedor - 29.
Finalmente, Rubio também seria uma escolha ideologicamente coerente. Não pertencendo a nenhuma franja limitada do Partido Republicano, como o libertário Rand Paul ou o cristão Evangélico Mike Huckabee, o senador da Florida é um conservador que agrada ao Tea Party ao mesmo tempo que consegue atrair alguns eleitores mais moderados. É certo que é mais conservador do que o nomeado republicano tradicional, mas, numa época em que o GOP guinou à direita, isso não é propriamente algo de surpreendente.
Contudo, até ao momento, Rubio não tem confirmado o seu potencial e os seus números nas sondagens não têm sequer conseguido atingir os dois dígitos.Ainda assim, nada está ainda perdido para Marco Rubio que tem ainda tempo para se assumir como um dos favoritos a obter a nomeação. Para o fazer, é imperioso que recorde aos eleitores republicanos (normalmente pragmáticos na escolha do seu nomeado), que, caso seja nomeado, seria uma escolha fortíssima para derrotar os democratas quando chegar o dia 8 de Novembro de 2016.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

The Donald Show

Ainda que não tenha escrito sobre isso (24 horas por dia não chegam, nem nada que se pareça), tenho seguido atentamente a campanha para as eleições primárias para a escolha do candidato presidencial do Partido Republicano e todo o espectáculo gerado pela presença do mais polémico candidato de que há memória: Donald Trump. O magnata do imobiliário - e eterno candidato a candidato presidencial - desta vez avançou mesmo com uma candidatura à Casa Branca. E que candidatura! O efeito do "The Donald" tem sido tal que transformou estas primárias num autêntico circo mediático, bem à imagem do excêntrico bilionário.
Com a sua forma de estar polémica e o seu discurso agressivo e politicamente incorrecto (e não raras vezes a resvalar para o mal educado e insultuoso), Trump tomou conta da campanha e conquistou admiradores entusiásticos e críticos ferozes. Com a sua notoriedade, Trump subiu rapidamente nas sondagens e é, há largas semanas, o líder incontestado da corrida. É, neste momento, o frontrunner e o alvo a abater por parte dos restantes candidatos.
Todavia, não acredito (ainda) que Donald Trump possa vir a ser o candidato presidencial do GOP. Em primeiro lugar porque o Verão que antecede as primárias é conhecido, em especial do lado republicano, por ser uma espécie de silly season. Nesta altura, a vários meses do início das primárias, a maioria dos norte-americanos está ainda pouco atenta ao trilho da campanha, ao passo que os eleitores mais entusiastas, que, no caso do GOP, são, por norma, os mais conservadores, estão já ligados a tudo o que se passa na corrida. Ora, esses eleitores costumam procurar um candidato fora do establishment e que represente a ala-dura do partido. Foi isso que aconteceu há quatro anos, quando Michelle Bachman e Rick Perry dominaram as sondagens nesta fase da campanha, sem que nenhum deles se viesse a tornar um verdadeiro contender na fase "a doer" das eleições. Em 2016, pode ser a vez de Donald Trump. Mas, como Perry e Bachman, o mais provável é que à medida que o grosso dos eleitores comece a prestar verdadeira atenção à disputa pela nomeação (e não apenas a todo o show off actual), Donald Trump seja ultrapassado por concorrentes mais institucionais e melhor posicionados para a eleição geral.
Por outro lado, é um facto que Trump tem dominado por mais tempo do que qualquer outros dos candidatos "anti-Romney" o fez em 2012, o que pode levar a crer que Trump veio para ficar e não é um fenómeno de circunstância, especialmente porque tem reinado entre um grande e forte leque de candidatos. Mas The Donald tem beneficiado, e muito, precisamente do facto de concorrer entre quase duas dezenas de republicanos que procuram a nomeação do partido. Trump, sempre polémico e sem papas na língua, é um homem de extremos e provoca essa mesma reacção: ou se adora, ou se detesta. Assim, com o seu discurso fracturante, conseguiu uma franja de apoiantes (os que o adoram) que lhe tem valido cerca de 30/35% das intenções de, voto de acordo com as sondagens, com os restantes eleitores (os que o detestam) a dividirem-se pelas restantes candidaturas.
Assim sendo, é provável que à medida que o tempo passa e que a corrida se vai definido, os eleitores que não gostam de Trump se vão posicionando atrás de um ou dois candidatos melhor posicionados para obter a nomeação, ao mesmo tempo que os concorrentes secundários e que ficam sem dinheiro e apoios se vão retirando da corrida. O empresário ficará, assim, "agarrado" à sua franja eleitoral, sem grandes hipóteses de ver crescer a sua base de apoio.
Contra Donald Trump funcionará também o aparelho do Partido Republicano, que não quer, de forma alguma, que seja o excêntrico e polémico bilionário a representar o GOP na eleição geral, com a consciência que isso significaria entregar de bandeja a Casa Branca aos democratas por mais quatro anos. O establishment do partido tem conseguido manter o controlo do processo de nomeação, pois não é habitual ver um outsider a concorrer sob a égide dos republicanos - o último caso terá sido Barry Goldwater em 1964 - e quererá que assim continue desta vez.
Por tudo isto, considero muito pouco provável que Trump venha a conseguir a nomeação. Ainda assim, convém continuar a prestar atenção a este ilustre candidato (o que não será difícil). Primeiro, porque, nesta fase das campanhas presidenciais os candidatos procuram essencialmente duas coisas: dinheiro e notoriedade. Ora, Donald Trump não precisa nem de uma coisa nem de outra, pois é um bilionário e pode financiar pessoalmente a sua campanha e é uma figura pública, conhecido nos Estados Unidos e no mundo. Finalmente, porque costuma dizer-se que nesta fase não se ganham eleições, mas podem perder-se. E, para já, Trump ainda não as perdeu.